terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quase tão Surreal

Era uma daquelas menininhas sonhadoras que, na escola, sentava sempre no meio da fileira, na fileira do meio. Gostava de imaginar que a aula era só pra ela. E, de certa forma, a de hoje será.
Bastava fechar seus olhos e as palavras ouvidas viravam desenhos em brilho e canções. As lições corriam nas asas dos pássaros mas às vezes caiam de lá e se espatifavam.
No quadro havia um desenho comum da aula de Ciências: o sol de um lado, chuva caindo em riscos na terra e uma árvore grandona ocupando o resto com raiz, caule, folhas e frutos. Agora você precisa se lembrar das partes de uma planta e descobrir o que está faltando no desenho. Para a menina, era o que ela mais gostava.
Lembrava da casa de sua avó e do jardim cheio de cores diferentes. Como você já sabe o que é, pode ajudá-la a entender como pode mesmo a flor mais fraquinha ficar tanto tempo em pé sem pés.
OK, são as raízes. Mas aquele dia era um dia diferente. Ela estava agitada e não conseguia ouvir nada que vinha lá da frente. O curioso é que se lembrava o tempo todo de um sonho esquisito que tivera e, de repente, seus pés começaram a formigar.
Seus pés doíam e alguma força estranha puxava-a para baixo com tamanha intensidade que ela foi obrigada a ficar em pé bem retinha.
Alguma coisa coceguenta subia pelas suas pernas e grudava-se em sua pele envolvendo-a. Sentiu-se presa. Seu corpo foi ficando tenso e endurecido. Tudo ficou escuro. Sentia um sangue diferente acelerando dentro dela.


No meio da sala, plantou-se como árvore e nunca mais saiu de lá.



Um comentário:

  1. Muito bom, Vanessa!!
    Adorei! Me identifiquei com esta menininha sonhadora... ;)
    Por um tempo fica "plantada, mas um dia, dela sairão flores e frutos para o mundo.

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