sexta-feira, 18 de abril de 2014

Só Por Hoje - Ode a uma Alice Chapada

Enquanto um lado do espelho reflete, o outro me vê distorcida. Minutos se passam até que eu saia do transe. Meu inconsciente imitou Alice, atravessei minha imagem e fui além do outro e de mim. Não sou o que pareço, sou um lapso enrijecido pelos ponteiros do coelho. Sou a rainha vermelha. Cortaram-me a cabeça e minha terceira perna foi amputada por um cirurgião maluco.

Estou caindo, lá dentro do espelho não tinha fim. Só valetes repetidos marchando um tarô insano decidindo minha vida por mim. Meu rei de copas de tão negro, morreu branco de medo e fugiu. Foi morar no cemitério pra enfim se livrar de mim.

E eu, sempre caindo pro lado errado, ousei errar meus medos e fui tomar chá e fumar  um narguile no cogumelo. Não tinha wonderlands por lá, só tinha eu e eu tinha que bastar. Meu biscoito acabou e chorei sozinha um rio de lágrimas. Nadei pra fora de tudo, sumi desse mundo, desfantasiei. Parei de cair.

De dia, de novo, a rainha acordou, demoliu sua torre e saiu pra passear atravessando a floresta escura e com medo mas paz. Do outro lado, escondido, um reflexo do que ainda não viu. E o gato sorriu sem feliz mas enigma do que estava por vir. Leu no baralho. Sumiu. Alice não precisa de gato. Nem de espelho. Contente em saber que só estar ali revela um perder-se em si. Procurar-se dormindo, acordar sob a árvore ao lado de uma torre em que outros por hora já ousem subir.