quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A piedade Também um Dia Seca

(para uma mãe e três irmãos)

Apenas um sopro do que já foi
Apelido profano de nome real
Um corpo na cama esperando perdão
Com dor e sem voz.

Está ali um rabisco, um esboço
Resto de monstro e doutor
Pedaço fosco Tedi-o de repetição
Cansaço infecundo.

Menino levado, pecado sem graça
Peixinho rugindo ou dormindo
Um monte de ideias perdendo atenção
Delírio in-são

Eis aqui um sem-jeito de vida
Gemido sem muito respeito
Cuidando das sobras caídas no châo
Tirana des-ânima

Afora o apreço do antes
Se confundindo com doce lembrar
A gente ainda (e sempre) se pergunta
Se é certo ou errado.

ESTAMOS AGORA SEM MÃO


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Desafio - O Silêncio das Montanhas, de Khaled Hosseini

Sétima semana do desafio.
Uma coletânea de personagens maravilhosos que se conectam formando uma teia perspicaz e até inesperada. Cada capítulo parece um livro à parte e juntos completam a trama de dois irmãos que são separados numa infância de pobreza intensa. Com o Afeganistão como cenário principal, o livro não deixa de emaranhar o contexto político delicado, ou melhor, atroz, de uma sociedade que por anos sofreu com guerras e destruições. Durante a leitura é preciso ir montando algo como que um quebra-cabeças mental para se ter a ideia do contexto o que, no fim, é recompensado com a certeza de que se leu uma (ou várias) história emocionante.


Carta Póstuma

Qualquer lugar, em algum momento da sua imaginação.

Minha Filha

O que te dizer nesse momento de tanta distância? Parece que foi ontem que conversamos sobre as minhas dores enquanto você massageava minhas mãos cansadas e acalentava meu choro sem ter muito com o que me consolar. Trocamos de papéis, não? Então eu era sua filhinha assustada e você cuidava de meus passos como se eu fosse a única em sua vida.
Lembra do MP3 tocando a trilha sonora daquele desenho que eu adorava? Eu ficava bem quietinha, nem me mexia, mas sentia como se eu fosse Spirit, logo eu estaria livre e sei que você sabia. E doía. Por isso me demorei mais um pouco.
Nunca quis me separar de você, minha Chiquitita querida que eu tanto admirava e que por tantas vezes me alegrou demais dando sentido a uma vida que me parecia um fardo. Eu via você crescer e desejava tantas coisas boas... Sempre disse que te admirava e sempre acreditei que você era capaz de muito. Suas escolhas me assustavam, mas ainda era a minha filhinha que eu via crescer e queria tanto te proteger e lutei por você e viajei por você e em você encontrei uma força que nem sabia ter.
Enquanto você crescia, sem saber, você abria meus horizontes, me dava amigos (eu nunca os tivera), me obrigava a chorar de preocupação, ignorava meus conselhos para ter cuidado (sempre tão impulsiva e eu, medrosa), brigava comigo pra eu aprender a me amar e ia comprar roupas (coloridas, eca) comigo pra tentar me deixar um pouco menos infeliz.
Você queria que eu escolhesse, Eu, que nunca fui boa com escolhas, aceitei sempre o que a vida me entregava sem perguntar e sem lutar. Lutei por vocês, meus filhos, escolhi vocês pra serem meu único bem precioso dessa vida e me doei com tudo o que eu tinha pra dar. Ao que parece, funcionou. É o que percebo quando olho nos olhos de cada um dos meus amores crescidos e feitos na vida.
Nunca mais.
Pra mim é menos sofrido, eu sei. Mas o que deixei em você talvez sirva de consolo quando chorar por mim.
Estou com você porque a mágica da vida é que sempre serei sua mãe. Então, SOU em você.
Sinto suas saudades minhas e te amo pra sempre.

Mamãe


Desafio - A Caixa Preta, de Amós Oz

Um livro inspirador!
Os personagens ainda estão brincando com a minha mente, cada página que eu virava era uma delícia.Super recomendo.
Cartas que contam histórias de vidas. Fragmentadas, vão montando um quadro de tragédias e encontros,ódio e compaixão,atração e liberdade, usando pontos de vistas diferentes que se dirigem a um mesmo fim.
O tom da narrativa surpreende pelo realismo das relações. Personagens bem definidos, de opiniões fortes e determinados, esperando ou construindo seus próprios finais.


Tudo são escolhas

E se não fosse de noite?
E se eu não tivesse ido?
E se ele não tivesse lavado os cabelos com aquele shampoo cheiroso?
E se eu tivesse vindo embora depois do ensaio?
E se ele tivesse começado a conversar com outra menina?
E se eu estivesse de mal humor naquela hora?
E se nossos ônibus não fossem no mesmo terminal?
E se eu estivesse namorando? Ou ele?
E se ele não fosse cabeludo? Ou baterista?
E se eu não tivesse gostado dele?

E se destino realmente existisse???


O que ou quem nos escolheu???

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Desafio - Ame o Que é Seu, Emily Giffin

Leitura da quinta semana.
Vou começar sendo bem direta e parcial sobre esse livro: Não gostei! Não recomendo! Cansativo e meloso até para menininhas.
Helen é uma mulher recém casada e feliz quando um dia encontra casualmente seu ex-namorado com quem rompeu 8 anos atrás, deixando uma história pendente. Então a autora passa o resto da história fazendo comparações entre o marido e o namorado, entre o presente e o passado evidenciando o único e imenso conflito interno sobre trair ou não o marido.
Imaginar de que maneira escolhas diferentes nos levariam a caminhos diferentes pode ser um tema bem interessante a ser explorado porque esse não é um questionamento humano incomum. Infelizmente, o simplismo e a infantilidade da personagem banalizou o tema por completo.


Psicanalisando-se


e quando você olha pro lado e vê que perdeu o controle bom às vezes é melhor sair um pouco de cena mas dá um certo pânico se na hora de voltar sua vida já deu tanta volta que nem você se reconhece mais e se na volta você mudar de idéia e quiser fazer tudo de novo recomeçar de onde parou refazer as coisas antigas de uma maneira atual e reinventar seu novo eu tem um outro no controle um outro que você já não sabe mais quem é que já foi você ou parte de você mas que na sua ausência tomou conta da parte que você abandonou porque foi isso você se abandonou se perdeu se confundiu no meio de tantos caminhos e decisões e decidiu parar de pensar ser um animal um robô realmente é mais fácil trabalho intelectual te força os limites e você já não queria desafios não quer mais o que na verdade você quer chegou na encruzilhada que força seu eu preguiçoso a tomar uma decisão por quantas delas você já passou fingindo saber quem vai querer ser quando crescer por quanto tempo você vai mentir dizendo que está tudo bem só pra não precisar pensar numa solução você aprendeu a enganar o tempo todo como se faz com um boi com seu toureiro agora está na hora de crescer e decidir finalmente quem você vai ser e agir sobre a sua vida respeitando todos os seus eus

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Desafio - O Lado Bom da Vida, Matthew Quick


Quarto livro do meu desafio anual.
Pat Peoples é uma pessoa determinada com uma fixação: voltar para sua esposa e terminar com o "tempo separados". Depois de passar uma temporada internado no "lugar ruim", sua mãe o leva para casa mesmo sabendo que sua mente ainda estava comprometida. Pat não se lembra de quanto tempo ficou longe se casa e porque, mas não faz muita questão de saber, ele tem apenas uma fixação: sua esposa Nikki.Não muito favorável a relacionamentos e até um pouco infantil, ou ingênuo, acaba ficando amigo de Tiffany, uma mulher tâo problemática quanto ele mas que se empenha em ajudá-lo, ajudando-se. Família, amigos, problemas, rejeições e reencontros marcam esse livro com delicadeza e uma pitada de doçura. Uma leitura emocionante.



Quase tão Surreal

Era uma daquelas menininhas sonhadoras que, na escola, sentava sempre no meio da fileira, na fileira do meio. Gostava de imaginar que a aula era só pra ela. E, de certa forma, a de hoje será.
Bastava fechar seus olhos e as palavras ouvidas viravam desenhos em brilho e canções. As lições corriam nas asas dos pássaros mas às vezes caiam de lá e se espatifavam.
No quadro havia um desenho comum da aula de Ciências: o sol de um lado, chuva caindo em riscos na terra e uma árvore grandona ocupando o resto com raiz, caule, folhas e frutos. Agora você precisa se lembrar das partes de uma planta e descobrir o que está faltando no desenho. Para a menina, era o que ela mais gostava.
Lembrava da casa de sua avó e do jardim cheio de cores diferentes. Como você já sabe o que é, pode ajudá-la a entender como pode mesmo a flor mais fraquinha ficar tanto tempo em pé sem pés.
OK, são as raízes. Mas aquele dia era um dia diferente. Ela estava agitada e não conseguia ouvir nada que vinha lá da frente. O curioso é que se lembrava o tempo todo de um sonho esquisito que tivera e, de repente, seus pés começaram a formigar.
Seus pés doíam e alguma força estranha puxava-a para baixo com tamanha intensidade que ela foi obrigada a ficar em pé bem retinha.
Alguma coisa coceguenta subia pelas suas pernas e grudava-se em sua pele envolvendo-a. Sentiu-se presa. Seu corpo foi ficando tenso e endurecido. Tudo ficou escuro. Sentia um sangue diferente acelerando dentro dela.


No meio da sala, plantou-se como árvore e nunca mais saiu de lá.



Desafio - Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá, Lewis Carrol

Olá para todos.
Aqui está o livro que li nessa que é a terceira semana do ano. Sabe, nem estou achando tão difícil assim ler um livro por semana. O grande desafio mesmo é postar o comentário sobre ele e ainda tentar escrever um texto baseado na estrutura literária que ele me sugere (essa é uma meta pessoal). Tudo está no blog, então peço que comentem e sigam se gostarem.


Li Através do Espelho quando criança e tenho aquela sensação de ter adorado. Algumas percepções novas me vieram com a releitura: alguns personagens estão intimamente relacionados com músicas e/ou poemas que parecem bem familiares a Alice (perdoem a minha ignorância mas essa é definitivamente a impressão de um leigo, não tenho a intenção que meu texto seja uma resenha nem um a crítica), a história se passa sobre um tabuleiro de xadrez e se desenvolve como tal, Alice tenta sempre ser muito polida e educada (parece que ela não se permite ser autêntica e acho que é devido a educação britânica), os personagens e os acontecimentos são "sem pé nem cabeça" tudo é tão irreal que torna a história engraçada e fantástica. Não consigo deixar de imaginar um Lewis Carrol altamente chapado sabendo exatamente o que estava fazendo. Um dia ainda terei oportunidade de estudar Alice mais a fundo e me deliciar com mais descobertas...

Nada e Tudo





TU me perguntas em quê estou pensando agora. Teus olhos me ferem buscando em meus olhos o que queres que eu saiba.
eu me perdi aqui dentro, o espelho distorce o que eu quero... ajuda.

TU me invades, me encobres, arrombas os limites que impus e ainda esperas que eu suponha medir a tua dor.
eu desisti de me guardar, sou toda explosão incontida e deformo queimando meu mal todo em ti.

TU buscas respostas e decides que devo depositar a teus pés a resolução dos teus assombros.
eu fujo da força que vejo pulsante, diminuta apequeneio em pávidos pesadelos.

TU anseias que eu te sinta pena, tomando em meus braços todos os passos que fazem do teu dia uma sobrevivência a ti mesma.
eu me humilho posto que não sou, não sei, não vou, parei.

TU expões as poções feridas que destilo em secreto e, desnudo, me cubro gotejando minha indiferença.
eu me desfaço, agora virei pó revoltante, girando em ventos furiosa, redemoinhos, perversa.

TU danças no baile de máscaras da tua fantasia a convite dos pesadelos de nosso conto de amor.
eu sou tudo o que criei: movimento e música, prazer e horror, você e eu.

TU contas e falas e gritas jogando sobre mim e sobre ti mesma um vazio venenoso que angustia e consola.
eu quebro as cadeias da dor e desfaço os laços de nós, já sei que consumo incessante.

TU bebes de um remédio que destrói sendo aquilo que não querias ser, descontrolada proteção que anseias ao quebrar regras.
eu desmaio nos mandamentos da minha própria religião, enlouquecida, minha crença sou eu.

TU permaneces, agora, adormecida e calada.
eu, exausta, esqueço a disputa, aborto-me. 

EU me pergunto em quê estou pensando agora.
tu, sem muitas respostas, te calas.                                                                           




E quando me imagino virando o jogo me vejo acordando em teu sono.
Abres meus os olhos sorrindo e sorrio.
Afastas de nós os meus sonhos ruins.
Começo a te ver como eras.

Por mim.