terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Metade

Desde o momento em que li.amei essa poesia. Na verdade, ela me ensinou a amar poesia.
É daquelas que você daria qualquer coisa para ter escrito. 
Declamada pelo autor, então, fica magnífica.
Sempre Oswaldo Montenegro...


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

domingo, 22 de dezembro de 2013

Para ler mais




Não sou muito de acreditar nessa história de "metas para um ano novo", mas confesso que a ideia me inspirou... ler um livro por semana é realmente um desafio a se superar. Não parece ser tão difícil, mas acho que isso é uma mentira escondida. No começo de um plano, na verdade nada parece ser impossível, então decidi entrar nessa. Já sei como vou começar mas não como termina.

52 livros em 52 semanas.
E que venha 2014...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Medida de duração



Quando a espera é mais lenta que o tempo, há algo bem lá dentro que ainda grita: "Espera!".
Os sustos se arrastam... os automóveis na rua voam e alguém permanece sentado ou em pé, tanto faz.

Um único instante parado, parando sua vida de movimentar.


Não adianta, é em vão que as lembranças iludem, breve alívio, porque sossego é sempre determinante e instante. Nessa hora não tem mudança.

Quem espera morre um pouco a cada tanto que aguarda e se sustenta, é por uma fantasia auto-inventiva que ajuda nos momentos de pausa.

O silêncio dói. Dói tanto que só suporta por medo de permanecer deserto. E vai levando...

Uma hora esse tempo vai ter de parar, ainda que inércia teime em ser vida. De teimoso, ele segue.

Calmo e omisso, o relógio prossegue de acordo com seu mandar. Não tem muita regra que o sustenha, então é melhor se deixar estar. Assim mesmos temores persistem.

O progresso não firma pés no chão, o ponteiro não pára, obriga em contínuo. Às favas com seus limites, é justo e bom um pouco mais de alma.

E lá dentro, já cansado de gritar, de tentar, de respirar, o algo enfim se move, e resolve deitar.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Breve elogio a um morto

Depois que cesso teu silêncio, sossego...
Espero minhas mortes, reflito o oriente
Tudo são manchas de lembranças vivas
Quero-te de volta, relembro teu destino
Levando as palavras aos espaços fundos
Que, então, sempre pudemos suportar-
Nos encantos passos leves e espessos.

Depois de toda a nossa tanta história
Só posso dizer-te em sussurro de brisa
Num enlevo realidade sopro inerte
Nos esperam as memórias que tiveste
Solene livre vento que lamento agora só
E quando fechas os teus olhos ao findar-te
Abro os meus para evocar-nos mesmo assim.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Por quase todos os dias

Não são os dias bons.
São os delicados e supersticiosos, mas pesados.
Então, faz-se ordem o desejo de voar.
Porque inquietar-se é preciso e flutuar também.
De uma vontade brota o meio e o seu desfecho.
Pelo vão da porta passam o vento e minhas asas.
Conto uma história quando ameaço meus limites.
Não faço o que quero, despedaço.
Nem um pouso é sublime, mas fato.